Manaus tem 95,1% de suas vias urbanas pavimentadas, um índice superior à média nacional, que é de 88,5%. Apesar do dado positivo, o número contrasta fortemente com outro indicador: apenas 0,8% das ruas possuem sinalização para bicicletas.
O dado, extraído do Censo Demográfico 2022 do IBGE, expõe uma cidade asfaltada, porém nada preparada para a mobilidade ativa — aquela realizada a pé ou em veículos não motorizados, como bicicletas. A taxa manauara de sinalização cicloviária está abaixo da média nacional, que já é considerada baixa, com apenas 1,9%.
Essa discrepância escancara um modelo urbano centrado nos automóveis, que prioriza o trânsito motorizado e deixa ciclistas e pedestres em segundo plano.
Infraestrutura para quem anda de carro, não para quem pedala
Embora a pavimentação de ruas seja fundamental para o desenvolvimento urbano — melhorando mobilidade, acesso a serviços e qualidade de vida —, a ausência de estrutura básica para ciclistas mostra que Manaus não tem se planejado para uma mobilidade urbana sustentável e democrática.
Entre as capitais brasileiras, a cidade figura entre as piores em infraestrutura para bicicletas. Dos quase 2,2 milhões de habitantes da capital amazonense, apenas uma fração mínima vive em áreas com vias adaptadas ou seguras para o uso da bicicleta.
A situação compromete não só a segurança dos ciclistas, mas também o incentivo ao uso de modais alternativos, que são menos poluentes, mais baratos e aliados da saúde pública.
Outros dados revelam urbanização desigual
Além do contraste entre vias pavimentadas e ausência de ciclovias, outros dados do Censo 2022 ajudam a ilustrar o cenário urbano manauara:
✅ Itens com desempenho acima da média nacional:
- Pavimentação: 95,1% (Brasil: 88,5%)
- Iluminação pública: 95,4% (Brasil: 93,3%)
⚠️ Itens com desempenho abaixo da média:
- Arborização: 45,6% (Brasil: 64,0%)
- Vias sinalizadas para bicicletas: 0,8% (Brasil: 1,9%)
A falta de arborização impacta diretamente o conforto térmico da cidade, agravando o calor e reduzindo a qualidade ambiental. Já a baixa presença de ciclovias dificulta a diversificação de meios de transporte.
Cidades para quem?
A discrepância entre os tipos de infraestrutura aponta para prioridades desiguais no planejamento urbano. A pavimentação de ruas atende majoritariamente a veículos motorizados, enquanto bicicletas, pedestres e pessoas com mobilidade reduzida seguem negligenciadas.
Embora não haja dados específicos sobre Manaus em relação a calçadas e acessibilidade, o relatório estadual mostra que o Amazonas apresenta os piores índices do país em:
- Presença de rampas para cadeirantes: 5,6% (Brasil: 15,2%)
- Calçadas livres de obstáculos: 7,5% (Brasil: 18,8%)
- Vias sinalizadas para bicicletas: 0,5% (Brasil: 1,9%)
Esses números indicam que, mesmo com ruas asfaltadas e iluminadas, a cidade continua excludente para quem depende dos próprios pés ou de bicicletas para se locomover.
Desafios e caminhos possíveis
Especialistas apontam que investir em infraestrutura de mobilidade ativa e acessível é essencial para melhorar a qualidade de vida urbana. Calçadas acessíveis, ciclovias seguras, arborização e iluminação adequada devem caminhar juntos com a pavimentação.
A capital amazonense, diante de um crescimento populacional constante e desafios climáticos próprios da região, precisa repensar seu modelo de mobilidade. O asfaltamento, por si só, não é sinônimo de cidade moderna — nem justa.